domingo, 13 de setembro de 2009

R.N.: Existem milhares de grupos de rap, espalhados pelo Brasil, que sonham em gravar um disco e fazer sucesso. Só que o sucesso chega para poucos. Qual recado você deixa para esses grupos?
EDUARDO: O que eu posso dizer é o seguinte; irmão, se o teu sonho é ser o popstar que por intermédio da música compra carros do ano, jóias, apartamentos, come uma pá de mina e tem uma vida glamurosa, esquece, que o seu caminho não é o rap. Agora se o teu propósito é elevar o nível cultural e social da sua gente, se teu sonho é mudar radicalmente a vida das pessoas enclausuradas nos campos de extermínio e nos campos de trabalhos forçados, demoro, pode colar que o rap é o seu lugar. Quanto mais manos nós tivermos, com doses cavalares de indignação no peito e de amor e preocupação com o próximo, mais forte nós estaremos, como músicos, como pessoas e como movimento. É importante salientar que o rap não se limita aos cantores, o que eu falei vale para o grafiteiro, para o parceiro que expressa a sua arte através do break, da pichação, da palestra, dos livros, dos toca discos. Ou até mesmo pros manos que não se manifestam politicamente ou artisticamente, mas agraciam a nossa cultura com um comportamento exemplar, digno de verdadeiros seguidores da ideologia revolucionária. O hip hop é igual coração de mãe, sempre caberá mais um, desde que seja um gladiador que deseja colar na arena pra fortalecer a corrente, pra viver por uma causa e morrer por ela. Não é mais brincadeira de adolescentes preocupados em demonstrar para o mundo, quem vive no bairro mais violento. O rap exige muito mais responsabilidade e bom senso do que talento. Chega de assassinar nossa gente com nossos exemplos errados. Uma pá de truta, acha que eu bato mó sujeira com os parceiros que se drogam. Eu não sou nada e nem ninguém pra julgar ou condenar quem tenta amenizar seu cotidiano desesperador através de substâncias alucinógenas e psicotrópicas. Eu não fumo, não cheiro e não bebo, mas, se eu tivesse esses vícios não seria uma pessoa inferior a quem eu sou hoje. O caráter de uma pessoa, não se mede pela quantidade de baseados ou pelas gramas de cocaína que ela usa, e sim, pelos seus atos. Todos são livres pra fazerem o que bem entenderem. O que eu repudio é usar essa liberdade tóxica e letal na frente das crianças. Os manos que cometem esse erro, tem de lembrar, que os moleques muitas vezes, não tem bons exemplos em casa, pra confrontar com os maus e fazer um equilíbrio, uma compensação. Nunca podemos esquecer, que esses meninos e meninas, na maioria das vezes não tem um pai e uma mãe com um livro na mão, e sim com um litro. Muitos não têm uma referência positiva a seguir. Muitos nem os pais conhecem, são criados por avós. Em grande parte, não estamos lidando com pessoas que abrem a porta de casa e encontram uma família estruturada e esclarecida, que mantêm conversas francas sobre os estragos provocados pelas drogas licitas e ilícitas. Se você acha que não tem nada de mal em enriquecer ainda mais os donos das plantações de coca, de papoula, os empresários da InBev e a família Morris, firmeza! Mais deixa pelo menos as nossas crianças formarem seu cérebro racional pra decidirem a respeito do assunto. Aqueles que derrepente, acharem que as minhas palavras são exageradas, podem traduzir a música Better Dayz do Tupac, pra conferir que o que eu estou tentando expressar é apenas um pensamento universal, de todo o mano preocupado com a sua gente.

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