domingo, 13 de setembro de 2009

R.N.: O Brasil tem um presidente que nasceu pobre. O Estados Unidos um presidente que é negro. Isso significa poder para a minoria e melhora para o povo da periferia?
EDUARDO: Tanto o Lula, quanto o Barack Obama, eram sonhos de nações devastadas pelo ódio racial e social, freqüentemente disseminado pelos opressores, na promoção das suas lutas de classes. O Lula era e ainda é, a representação em carne viva do retirante nordestino, expulso de sua terra pela seca, pela falta de reforma agrária e pelas políticas da República Velha, que tanto beneficiaram o sudeste. Como todo bom favelado, eu me senti representado ao ver um homem que se assemelhava a mim ocupando o cargo mais importante do país. Com o tempo aprendi uma dura lição. Não adianta ter um de nós no poder com uma estrutura burguesa. Não adianta esse um dos nossos chegar ao topo financiado com o dinheiro de sangue da classe rica. Nessa circunstância, o máximo que os donos do passe do homem escolhido como salvador da pátria, permitem, é que ele nos dê algumas esmolas assistencialistas. E isso, para nos manter doentiamente felizes. E isso, de preferência em anos eleitorais. O boy permitirá que recebamos R$ 50,00, se em contra partida mantivermos nossos filhos na escola com sistema de aprovação automática. Ele concede R$50,00, apenas com a certeza que em troca receberá mais alguns semi-analfabetos. Nos deixará ter a tv de 29 polegadas, o carro financiado, mas, nunca o acesso às faculdades e aos melhores empregos. Foi foda aprender essa lição! Como todos, eu acreditava que quem mandava no país era o presidente e não o Congresso Nacional. Esses equívocos fazem parte da educação autodidata. Todos favelados esperavam que suas condições miseráveis de vida seriam prioridades do governo federal. Duramente constataram, que a exemplo de todos os presidentes passados, o foco presidencial eram os banqueiros, os industriais, os grandes empresários, enfim os investidores da candidatura. Com o passar dos anos, ficou claro, que o crescimento nacional estava atrelado ao crescimento global. Enquanto os chineses viviam a sua expansão econômica e os norte-americanos consumiam, nós crescíamos. Veio a crise mundial e o sonho acabou. Resumindo, o governo do metalúrgico, líder sindical, revolucionário esquerdista, foi tão corrupto e incompetente como qualquer outro governo burguês. Mas, foi absolutamente válido, pois nos trouxe esse aprendizado; não precisamos apenas de um presidente oriundo da favela, precisamos junto com ele, também de senadores, deputados federais, governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores. Precisamos ter o controle total da máquina pública.

No caso do Barack Obama, eu fiquei muito feliz com a sua escolha. Enxerguei sua vitória como uma espécie de vingança das minorias discriminadas contra a praga do racismo. Uma desforra das nações subdesenvolvidas do planeta ao modelo branco europeu norte-americano. Foi um acontecimento histórico e inacreditável. Digno de um longa metragem, ainda mais, por ter ocorrido em um dos países mais preconceituosos do mundo. Não posso precisar, que se trata de um primeiro passo em direção a uma nova era, mas, é muito importante termos mais esse modelo de superação e conquista para nos espelharmos. A história de Obama é a prova de que podemos, se quisermos. Não vou mentir, eu tenho uma satisfação imensa ao pensar nos filhos da puta da Ku Klux Klan, nos cavaleiros da camélia branca e outros adoradores de Hitler sendo governados por um homem negro, filho de um queniano e de sobrenome árabe. Igual a todos no Brasil, eu cresci importando as histórias made in USA. Cresci cultuando ídolos como Malcolm X, Martin Luther King, panteras negras, Rosa Parks, etc. As lutas dessas pessoas pela igualdade racial, pelos direitos civis e o fim das leis segregacionistas, se tornaram lutas planetárias. Adotamos o desejo de liberdade do afro-americano e seu sonho de ver um homem não branco no posto mais cobiçado do planeta. Sendo assim, no dia que o Barack Obama discursou como o 44º presidente americano e 1º presidente negro da história sangrenta dos Estados Unidos, acredito que cada pessoa do mundo, que já foi vitima da omissão estatal ou de ações repressivas e discriminatórias governamentais, estava em espírito ao seu lado. Mas, de qualquer forma, é bom deixar uma coisa clara, o lucro que teremos com a vitória de Obama, na minha opinião, virá da força do exemplo. Como os americanos ditam as tendências globais, é certo que muitos copiaram a nova ordem. Alguns racistas a partir deste momento devem ter passado a pensar; se um negro é capaz de comandar o país mais importante da terra porque não ocupar cargos de alto escalão. Porque não exercer funções de controle, de responsabilidade e de grandes decisões? Agora, eu creio que não podemos nos iludir que a Obamania mudará a vida dos afro-brasileiros nos morros e nas periferias. O fim do apartheid na África do sul e a eleição de Mandela pra mim foram mais significativos, e mesmo assim não tiveram tal êxito. È um erro na minha visão pensarmos que a partir de agora os problemas de outros povos serão tratados como problemas da Casa Branca. A política capitalista norte-americana consiste apenas numa coisa; manter a hegemonia planetária. Barack Obama não foi eleito para mudar o fanatismo local por poder ou para abrir mão da supremacia. Os americanos, para manter o status de potência militar, econômica, tecnológica e industrial, assim como na era Bush, continuarão financiando guerras, ditaduras, tiranos, pilhando povos, usurpando riquezas e dizimando milhares de opositores.

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